Saturday, February 25, 2006

Old and new memories

A ouvir The Long Road (again). E para trás tudo o que fica são sorrisos, momentos bons, coisas alegres. Para a frente esperam-me sorrisos, momentos bons, coisas alegres. Bom, não é? À minha volta, como se para onde quer que olhasse não tivesse nada que me deixe minimamente "não bem". Mas apertam-me as lembranças que me deixam uma sensação de double-feeling. E o novo que se constrói continua assim, como eu o quero, e como era esperado que ele fosse. Mas mesmo assim, ainda me consegue surpreender. Como tudo mudou e com essa mudança, absolutamente nada mudou (I changed by not changing at all...). E foi (é) assim. E passam-me tantas coisas pela cabeça que poderia dizer para descrever isto, mas não sei se não consigo achar as palavras ou se as quero pôr por escrito...

Como a vontade de rir, gritar, descarregar, partilhar, e até chorar se mantém, como sempre foi. Como é. E os gestos mantém-se. Not one single regret. Not one. Só por isto e por aquilo (segredos meus) vale(u) tudo a pena.

E voltei a lê-lo. Aliás, durante um dia não o larguei (e tenho testemunhas!!). E nas últimas páginas encontrei aquilo que disse a algumas pessoas, que não me saía da cabeça, que é verdade e que não fazia a mínima ideia que estava lá "(...) o que já era mais que sabido e é que estávamos condenados a entender-nos (...)"e fez clique! Cheguei à última folha, à última página, à última linha, à última palavra e pensei que poderia recomeçar a lê-lo naquele mesmo instante, mas não. Não é assim com ele. Mas voltar a rir, a sorrir e a chorar com ele...foi...bem, tinham que ser eu e que lê-lo para compreenderem!

E bom, bom é olhar para trás e sorrir, olhar para agora e sorrir e olhar para amanhã e sorrir. Mesmo com aquilo que às vezes sinto e que, pelo menos agora, ainda não consigo deixar de sentir, gosto de olhar. E lembrar. Aqui e ali. Pequenos, às vezes grandes, momentos. Gestos, palavras. Sinceramente, não tem grande importância. All the memories going 'round.

E sorrio. E relembro. E agradeço. Porque sim (esta aprendi contigo ;) ).

Sorrio. We all walk the long road.


E apesar das partidas do meu sub-consciente (Agnes, you know...), the sun will rise another day. The brightest.



Wednesday, February 22, 2006

Capítulo I

Tenho a certeza que o amor é uma estupidez. Torna as pessoas meio estúpidas e muda-lhes a maneira de ser e se calhar torna-as mais felizes, está bem, mas isso não muda nada e é claro que não torna inteligentes os que já são estúpidos. Quando vou na rua e vejo alguém com um sorriso parvo estampado na cara, penso: este fulano deve estar completamente apanhado da pinha, mas às vezes, quando estou em maré de indulgência, acrescento para mim: ou completamente apaixonado. Concordo que as declarações de guerra ainda são piores que as declarações de amor, mas isso não impede que as de amor sejam uma estupidez. Além disso, as declarações de amor podem acabar em guerra declarada ou por declarar, como aconteceu com os pais do Sérgio. Quem tiver adivinhado que estou apaixonado e se considere muito esperto e inteligente, elementar caro Watson por isso, com certeza que é um convencido, e se pensa que sou estúpido, ainda por cima é imbecil, porque pode acontecer a qualquer um apaixonar-se e ninguém está a salvo. Eu, para não ir mais longe, apaixonei-me pela Sara sem querer, comecei a gostar dela sem querer. Ao voltar das férias de Verão inventei uma história em frente dos colegas de turma. O Gonçalo - que quer ser um chulo - e o Miguel - que quer ser dentista e encher-se à conta de pontes e chumbos - tinham troçado do André porque o André nunca tinha estado com uma miúda, de maneira que quando chegou a minha vez inventei uma história de praia com uma estrangeira. A história não era muito original, mas pelo menos a garina não era sueca, embora o seu país também começasse por um S: era do Suriname e, não sei se repararam ou não, mas um S parece-se com uma serpente e isso é uma coincidência engraçada. Esta cena causou enorme expectativa (o Suriname, claro, não a serpente). De acordo com o que contei, a garina tinha os olhos amendoados e a pele ligeiramente amarelada, açafrão, mas ao mesmo tempo muito queimada. Quando tocou a campainha avisando que a aula ia começar, fiquei um coche sozinho e foi então que senti uma vergonha enorme por não ter ajudado o André quando fizeram troça dele. Ao entrar na aula reparei numa rapariga nova que se tinha sentado na primeira fila e pensei que se tinha sentado ali por ser a única em que havia dois lugares livres. Tinha uma razão muito diferente, mas eu ainda não podia saber. Era a Sara, claro. Tinha o cabelo loiro. A mim, tanto me faz que uma rapariga seja loura ou morena e isto não quer dizer que goste de todas mas sim que não tenho nada contra as louras nem contra as morenas e passei meia hora da aula a tirar apontamentos e a outra meia hora à espera de conseguir ver a cara da nova.
- João - chamou-me a atenção o stôr de Geografia, que às vezes salivava demais e então parecia um regador e os da primeira fila canteiros de hortênsias. - João, tens alguma coisa?
O stôr de Geografia conhecia-me do ano anterior e gostava de mim, não sei porquê. Eu também o curtia e acho que também não sabia porquê, embora se calhar era por ele gostar de mim.
- Não - disse eu, e corei porque sou um dos três mais tímidos da turma.
Então a chavala nova voltou-se e vi finalmente a cara dela. Juro que me sorriu durante meio segundo e que ela também corou. Claro que nesta altura da minha vida o eu jurar qualquer coisa não singnifica necessariamente que seja verdade. Quando digo qualquer coisa, pode ser verdade ou mentira. Quando prometo, já é mais possível que seja verdade, e quando juro, é bastante provável que seja. Mas absolutamente certo, cem por certo certo e ponho as mãos no fogo e que me caia um raio em cima, isso nunca. Uma vez disse à Sara:
- Juro-te.
Mas ela já me conhecia e disse:
- Está bem, mas é verdade ou não?
Fiquei mais desarmado do que o Gandhi e compreendi que um gajo tem de conservar uma parcela de credibilidade, porque se não chega a uma altura em que precisa que acreditem nele e niguém acredita, como na história do Pedro e o lobo, e um gajo fica danado e na verdade sem razão, porque a culpa é sua. Disse portanto:
- A partir de agora, quando jurar qualquer coisa a ti, aos meus pais ou ao meu irmão mais novo, juro que será sempre verdade.
Pensei que aquilo tinha mesmo que cumprir e que me estava a meter numa enrascada, porque se calhar alguma vez ia precisar de mentir à Sara ou aos meus pais e já não podia. Ao meu irmão mais novo não, ao Zaca nunca mentiria a não ser para lhe dizer coisas boas e para o consolar, dizer-lhe por exemplo que o mundo é bom e que no fim os actos maus são castigados e os bons são recompesados e as pessoas más têm o que merecem como nos desenhos animados dos Power Rangers e do Dragon Ball. Mas apesar de pensar que me estava a meter numa boa enrascada, gramei dizer aquilo, primeiro porque em quinze segundos me tinha transformado num home mais digno, num homem de palavra, e segundo porque incluir a Sara no grupo dos meus próximos, um grupo em que nem sequer tinha incluído o Paulo ou o Sebas, quase equivalia a dizer-lhe que a amava. Ela percebeu qualquer coisa porque me lançou um sorriso de fera que mostra os dentes e saiu a correr. Bem, pensar que era assim que ela ia reagir se eu confessasse os meus sentimentos roubou-me as forças para os confessar durante três ou quatro meses, pelo menos, pois desse tipo de forças não tinha muito. Mas ainda tenho que falar de mais mil e uma coisas. Por exemplo, dos hamsters e das cobaias ou dessa ratazana que andámos a perseguir na rua lá de casa e que ela dizia que era um ratinho. Na realidade, os hamsters não têm nada a ver com esta história e, além disso, foram morrendo todos, um atrás do outro, embora como os vamos substituindo continuemos a ter um. A cobaia chamava-se Cocas e no dia seguinte a ter esticado o pernil o meu primo, que é um anão e só tem quatro anos, perguntou-nos bué excitado, quase atropelando as palavras:
- E vocês viram como ela subiu ao céu quando morreu?
Disse que sim e ele disse:
- Todos os mortos são reis.
Aquilo foi o mais bonito do dia e da semana e pareceu-me a mim que a morte da Cocas ficava assim mais justificada, e fiquei com a dúvida se aquela frase dos mortos e dos reis era do meu primo ou se a teria ouvido a alguém mais velho, mas não sei, porque às vezes diz coisas que gostaria de ter sido eu a dizer. Começo a falar da Sara e acabo a falar de uma cobaia gorda e meio assassina, que dava dentadas e não havia quem metesse a mão na gaiola e fazia umas cagadas enormes e a Sara é bué orgulhosa e também se ofenderia se soubesse que tem que partilhar este relato com esse animal tão sujo, mas na realidade a culpa não é minha nem de niguém, odeio os gajos que andam sempre à procura de uma razão ou de um culpado, como se às vezes as cenas não acontecessem porque sim, já sabia que me ia acomtecer uma cena do género porque ao falar da Sara fico bué nervoso, mas vocês tinham que a conhecer, embora está claro que não vou ser eu que vos apresente, porque há uma coisa que não disse à Sara para não me chamar ciumento e cobarde e tirano, e é que às vezes me dá vontade de a fechar a sete chaves e quem a quisesse ver teria que pedir-me autorização e eu só deixaria que a vissem os mais feios de todos, pedido prévio feito com foto, e atrapalho-me e quero dizer tudo ao mesmo tempo. Disse antes que o meu primo era anão, mas é mentira. Uma vez fui a casa dele e ele estava a brincar no chão e cumprimentei-o assim:
- Olá, anão.
E então ele olhou para cima, com toda a sua inocência e sabedoria e disse:
- Não sou um anão, só tenho é quatro anos.
Estive a rir meia hora seguida. Um dia conto-lhes a dos provérbios. Com o meu primo pode-se aprendes muita coisa apesar de só ter quatro anos e estar impaciente porque lhe faltam dois meses para fazer os cinco.

E Dizer-te uma estupidez qualquer, por exemplo, amo-te, Martín Casariego Córdoba


[e hoje apeteceu-me, e olhei para a estante e apeteceu-me, outra vez]



Tuesday, February 21, 2006

Hail, Hail

ah, na na na
na na na na...
nana nanana nana
...
I don't wanna think, nana-ná...
And how do I...
...
...
...


I find it on the run in a race that can't be won
All hail, ...
...
...
...won...
...



double-feeling thing



Sunday, February 19, 2006

All the memories going 'round...

And I wished for so long...
Cannot stay
All the precious moments...
Cannot stay
It's not like wings have fallen...
Cannot say
But without you something's missing...
Cannot say

Holding hands of daughters and sons
In their phase they're falling down
Down, down, down...

I have wished for so long...
How I wish for you again

Will I walk the long road?
Cannot stay
There's no need to say goodbye

Oh, the friends and family...
All the memories going round
Round, round, round...

I have wished for so long
How I wished for you today

And the winds keep rollin'
And the sky keeps turning grey
And the sun is setting
The sun will rise another day

I have wished for so long
How I wish for you today

I have wished for so long
How I wished for you today
Will I walk the long road?
We all walk the long road

The Long Road, Pearl Jam


[Se poderem oiçam esta música, não se vão arrepender! O meu conselho é ao vivo, mas a versão de estúdio também é muito boa. Se não quiserem tirar da net, eu posso mandar a quem quiser e não tenha, porque as pens musicais andam por todo o lado! Mas aviso já que só tenho a versão de estúdio...]


By the way, esta é uma música que me deixa sempre com "aquele" sorriso...é linda, linda, e esta letra... mata-me everytime...


Thursday, February 16, 2006

And twisted thoughts that spin 'round my head

Estava já sentada na cama, a beber o belo do capuccino, a ouvir BLACK (desde que comprei o Ten que ele não saiu da aparalhagem), e veio uma sequência de twisted thoughts assolar a minha cabeça. Pensava. Reflectia. Sim, era muito mais uma reflexão. Perguntas levantadas por mim mesma, aquelas perguntas de "sempre".

Será que existe mesmo aquela ideia de (nos) darmos demasiado? Será que a tendência à nossa própria defesa é mais forte que aquilo que sentimos, ou podemos vir a sentir? Será que o medo é tão grande que preferimos guardar para nós aquilo que de melhor podemos ter? Será que apenas nos atrevemos a partilhar essas pequenas (enormes) coisas com aqueles que nada têm a ver com elas, porque sabemos que assim mantemos as nossas defesas.

Defesa. Defendo-me. Não de algo concreto, mas apenas da possibilidade de alguma coisa. E a nossa maior defesa é a omissão. De palavras. De gestos. É o ficar de boca calada, o não fazer isto ou aquilo, não por falta de certeza, mas por receio. Medo. Pior mesmo é quando o nosso corpo nos trai.

Como se tivesse vida própria, ele age por si só. E actua sem o nosso consentimento. E lá deixa escapar um sorriso que não queríamos ter mostrado, ou uma mão poisada que não queríamos ter poisado, ou um olhar. Um olhar. O olhar. Talvez a acção que menos controlamos, e por isso mesmo, a mais temida. Sim, tenho medo do meu olhar. Tenho medo daquilo que os meus olhos possam dizer sem o meu consentimento. É como se não fossem meus. E transmitem aquilo que sinto. Nunca minto a olhar nos olhos. E se eles fogem é porque, por momentos, tenho noção daquilo que eles estão a dizer e não quero que vejam. É meu.

É o meu segredo. Aquele medo que nos fala de mansinho, e nos avisa. Está sempre presente. Não, nem sempre. Muitas vezes nem o oiço, nem dou por ele, mas quanto mais me entrego, mais ele me sussura aos ouvidos, e me avisa para ter cuidado. Mas não é assim que deve ser. Mas é assim que é. Agora é. Deixa ser. Está bem assim.

Lesses tu o meu pensamento. Ouvisses tu o meu pensamento. Ou alguém. Mas é o meu segredo. O meu pensamento é o meu maior segredo. Só meu.

Existe tal coisa como dar demasiado? Será que esse muito, ou tanto são realmente muito ou tanto? Não. Nem muito, muito, muito é realmente muito. Não dentro do tanto que tenho.

E vou devagarinho, step by step. Cada bocadinho a contar. Cada minuto a saborear. Porque assim é que deve ser. Já dizia a minha irmã (as palavras que nós guardamos...). Ela disse, e eu memorizei, porque já na altura eu sabia que ela estava certa, e agora vejo que é mesmo possível ser como ela disse. E ela tinha razão. Tudo passa. Aquilo passou. Nova fase, tal como ela disse que seria, porque tudo faz parte, tal como ela disse que faria.

É o meu segredo. Partilho com aqueles que não têm nada a ver com ele. Partilho porque tenho que o tirar de dentro de mim (se não sufoca-me). E gritaria. Mas não para ti. Para ti sussurraria, ao teu ouvido. Baixinho. Para que quando ouvisses desconfiasses daquilo que ouviste, e olhasses para mim como quem pergunta se ouviste bem. E eu sorriria, e tu saberias que ouviste bem. Mas isso é na minha cabeça.

E chegará (ou então não) o dia de o testar e ver como será. Mas não tenho medo, porque não é agora. Não tenho medo porque não sei se será.

Confiança. Certeza. "Somos farinha do mesmo saco". Ou então não.

The question is who cares?

O alívio de não importar ao mesmo tempo que me acalma, assusta-me. E é estúpido o motivo pelo qual me assusta. Mas eu vou confessar. Assusta-me porque esta "indiferença" é boa demais.

Bahhhhhhhh........odeio isto tudo! Odeio isto tudo de sorriso nos lábios...coisas da vida!

E mesmo assim, há coisas que me marcam. Ao mesmo tempo, e nunca me vou esquecer disso. BLACK ao vivo em Portugal, no Estádio do Restelo, no dia 23 de Maio de 2000. E o choque foi tal, que por momentos não disse nada, não consegui mesmo. E tu estranhaste. E chamaste-me. E eu só respondi depois, e disse-te e tu disseste qualquer coisa como "estranho" ou "scary" (não me lembro)... E o melhor disso foi que não nada mudou, tal como quando soubemos daquilo. Porque é sempre assim. Calmo, tranquilo. Nada de mais. E é assim que é bom. E é assim que tem que ser.

Odeio coisas ditas. Aquelas coisas ditas. Aquelas às quais me agarro, sem necessidade disso, mas agarro-me. E oiço-as. E elas fazem-me sorrir. Sim, eu pareço mesmo ridícula de tanto sorrir para mim mesma, mas aqui, no meu canto, ninguém vê.

Odeio pequenos gestos. Aqueles gestos que são insignificantes e que por isso mesmo, mais valor têm. Odeio-os! Odeio isto.


E relembro o post da Xary, o "heart it all before". "pensar um bocadinho à frente nem que seja uns dias". Para que amanhã seja (ainda melhor) faço com que hoje não seja nada de mais (não me vá apetecer fazer do amanhá algo especial!).

All that I am, all that I'll be...

E respiro fundo. O respirar antes do mergulho. E mergulho. Não agora. Mas um dia, quem sabe. Aprendo já a respirar, just in case. Essa água atrai-me, mas é (ainda) muito funda para mim.

Bahhhhh... Nada de second thoughts, nem nada disso! E que raiva que isso me dá!


E sei que este post não deve fazer sentido nenhum, mas daí o seu título. Porque às vezes não tem que fazer sentido. Porque às vezes o melhor mesmo é let go, e ver onde vai dar. Até mesmo com o pensamento e com as palavras. Deixá-lo ir, e deixá-las fugir. Ver onde vai dar. Aqui faz sentido.

Por mim?, disseste tu
Sim, por ti., disse eu

[BLACK no ouvido.]



Wednesday, February 15, 2006

Porch

Hear my name
Take a good look
This could be the day
Hold my hand
Walk (Lie) beside me
I just need to say...


E talvez estejas perto de ouvir aquilo que já sabemos, que já escrevemos, mas que nunca dissemos. É grande. Grande como o sorriso que fazes nascer e crescer nos meus lábios. É daquelas coisas especiais que nos batem à porta e são tão fofas que temos vontade de cuidar. Cuidar de ti. De...hummm...atrevo-me a dizer? Não. Não atrevo. Não aqui. Não sem tu saberes primeiro. É o teu direito. Ninguém to tira.

[Aquilo que sabes e que abreviamos para três letras...muito...]


Friday, February 10, 2006

And so it was

Primeiro. Au, auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Dói demasiado. Choca demasiado. Pai. Pai. Estás assim. Pai. Mana. Que coisa. Que sufoco e tu não chegavas e fazias-me tanta falta. E o pai. Ai mana, o pai. E o tio...O avô...Tudo. O que a Andreia vai fazer? A vida continua, disse-lhe o avô. Ela disse-me hoje de manhã. O avô disse-lhe assim (gravei as palavras exactas, tal como ela me disse) "Já não vais ter um casamento como gostávamos", "Nem sei se vou", disse ela, e o avô respondeu "Não, não, Andreia, a vida continua." E sabemos bem que o Tio iria querer que assim fosse. Ai, Tio... (lembranças das palhaçadas dele com o meu pai, lágrimas internas, silenciosas). Marisa, Marisa, Jorge. "O avô é mais forte que nós todos juntos", disse-me a Andreia hoje quando o fomos buscar.

Pai, pai. Padrinho. Todos. E a foto. Desde terça que a foto não sai da minha mesinha de cabeceira, e ontem quando vinha para casa, o Eddie disse "the picture kept will remind me".

Pai, pai.

E vocês. Bolas, que nem mil obrigados são metade daquilo que vos tenho para agradecer. Tati, Manata, Inês, Xary, Miguel, e tu...tu foste, sei lá! tiveste lá, a apanhar comigo, a apanhar comigo e a apanhar comigo. Brigada a vocês!! Pela preocupação, pelo apoio, por tudo!

Pai, pai. E Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. A tua casa vazia, sem as tuas piadas (iguais às do meu pai). Marisa, tanta vez que falámos mal deles por eles serem tão iguais, não foi? "E agora quem é que vai fazer as macacadas contigo?", disse a Isabel ao meu pai, e ele encolheu os ombros e foi-se embora (chorar) e eu fiquei de coração partido por vê-lo assim.

"Já viste o Tio?", disse o meu padrinho. "Já", disse eu. "E consegues?", disse ele. Abanei a cabeça. "Eu não consigo", disse ele, "Ele tá muito mal?". "Não. Parece que tá a dormir.", disse eu. "Mas ele não vai falar comigo...Ele dizia sempre, Então tio Fernando, como é que isso vai?", disse ele. E foi-se embora. Quinze minutos depois, fez-me a mesma pergunta, como se me tivesse a ver pela primeira vez.

E o carro. O lugar, o volante. Direitinhos. Nem uma única mancha de sangue. "Ele fez tudo bem, os piscas, não vinha em excesso de velocidade", disse o camionista. E depois...

Lá estava a terra, em cima daquela caixa de madeira, e olhei para o lado direito. Mana. Para o lado esquerdo. Pai, mão, Zézinha. Pai a chorar. Em 19 anos. Pai a chorar. Fui lá. Quatro passos, cinco? Eu estava perto. abracei-o e chorei com ele. Ainda não tinha chorado desde que tinha entrado por aquele portão. Tinha beijado o meu Tio. Frio, tão frio. De mãos dadas com a Marisa. Mas nada de lágrimas. As pessoas olhavam para mim. Tristeza marcada. E eu olhava para aquele buraco. E nada de lágrimas. O meu pai. Agarrei-me a ele. Ele de mãos dadas com a minha mãe, filha agarrada a ele, outra filha mesmo em frente. Irmão ali. E as lágrimas corriam, e eu tive medo, medo de não ser forte o suficiente para ele. E chorei també? "Quem é que vai fazer as macacadas contigo?"

Padrinho. Que medo. E a frase que mais ouvi foi "Ai, Marina, o Tio. O nosso Tio". Mana. Eu sou a neta / sobrinha mais nova. Sou aquela que menos recordações tem. Mas tenho-as. A voz dele. Ainda a ouço. A minha maio lembrança é das muitas festas na casa dele. Na parte de trás do quintal, onde falei pela primeira vez com a minha mana e com a Inês, ao pé do churrasco. Ele a comer e a beber com o meu pai. E estão lá todos. Como ele queria. Tio, Tio.

Estás com a avó. 9 anos dia 7 de Abril. E acalma. Mas nada vai ser o mesmo. Ti Fatinha, Ti Ana, Tio António, Avô, Tio Fernando, Pai. Isabel, Mana, Bruno, Tiago, Jorge, Andreia, Cristina, Marisa, Eu, Sara. Guilherme (o Tio gordinho, como ele te chamava), Joana, Tomás.

Jacinto Calado. Benfiquista, como todos os Calados, bem - dispoto, como todos os Calados, amigo, como todos os Calados. Meu Tio. Jacinto Calado.


[mais uma vez, brigada, a ti, em muito especial...]

E eu sempre pensei que fosses tu a fazer a minha casa.


Friday, February 03, 2006

Presente e Futuro

"Sobre o futuro, toda a gente se engana. O homem só pode estar certo do momento presente. Mas será bem verdade? O presente, poderá ele verdadeiramente conhecê-lo? Será capaz de o julgar? Claro que não. Porque, como poderia conhecer o sentido do presente quem não conhece o futuro? Se não sabemos em direcção a que o futuro o presente nos leva, como podemos dizer que este presente é bom ou mau, que merece a nossa adesão, a nossa desconfiança ou o nosso ódio?"

A Ignorância, Millan Kundera


[Porque há coisas que só sabemos que estão certas no momento em que as vivemos, e porque o futuro constrói-se do presente, e se não dermos importância a este não criamos o futuro que desejamos. But then again, o futuro não existe! Usamos o presente para avaliar o passado, mas por sua, vez "o passado é o que é". Oh well, já sabem como vou acabar isto não é? Makes much more sense to live in the present tense... :) ]


Wednesday, February 01, 2006

Acceptance

When the spent sun throws up its rays on cloud
And goes down burning into the gulf below,
No voice in nature is heard to cry aloud
At what has happened. Birds, at least must know
It is the change to darkness in the sky.
Murmuring something quiet in her breast,
One bird begins to close a faded eye;
Or overtaken too far from his nest,
Hurrying low above the grove, some waif
Swoops just in time to his remembered tree.
At most he thinks or twiters softly, 'Safe!
Now let the night be dark for all of me.
Let the night be too dark for me to see
Into the future. Let what will be, be.'

Robert Frost

[So I close my eyes, even in the darkness. I need no eyes to see, I need to arms to feel, I need no feet to walk. I will walk following my heart own ticking. No signs of Thought. Presence of Feeling. It's dark. I see no tomorrow, and for that, I smile. Tomorrow? There is none. "Let what will be, be"]



A Estrelinha

E há coisas que são assim. Não, minto. Tudo é assim. Passageiro. Hoje azul, amanhã rosa. Com tons de verde ou laranja. E porque o brilho muda. Pouco. Muito. Mas muda.

A estrelinha estava lá. No céu. Sozinha. O brilho chegava às outras estrelas que não a entendiam. Ou não a queriam entender. Porque és assim?, perguntavam elas. A estrelinha sorria, sou assim porque sou.

Estava sozinha. Isto já foi dito. Com tons de laranja. Às vezes a Lua. Outras o Sol. Frio. Quente.

Porque é assim que é. Porque é assim que tem que ser. Pequeno. Grande. Pouco. Muito.

Porque és assim? Sou assim por que sou. Amanhã posso não ser. As outras estrelas não compreendiam. É assim. Há estrelas que não tentam. Muitas não compreendem.

A estrelinha estava sozinha. E via as outras estrelas. Brilhos únicos, próprios, distintos. A estrelinha tentava compreender. Ela tenta. Muito.

São poucas as estrelas que tentam. Mas as que tentam são as mais sortudas. Com tons de vermelho.

Porque somos assim? Perguntaram, uma vez, as estrelas umas às outras. Tentaram responder. Pensaram. Ponderaram. Analisaram. Frio. O brilho esmoreceu. Com tons de verde.

Perguntaram à estrelinha. Porque és assim? Ela sorriu, sou assim porque sou. Quente. Brilho. Com tons de laranja.