Wednesday, March 23, 2011

feliz 62º aniversário, Pai.



<3


Saturday, March 19, 2011

feliz dia do pai, Pai.



Tuesday, March 08, 2011

carta ao pai #8

pai,

sequência interessante de acontecimentos: aniversário da mãe ontem. hoje de manhã fomos as três ao cemitério escolher todos os pormenores da tua campa. o rex morreu à tarde.

acho que a mãe não se ressentiu muito pelo aniversário dela. quis ir ao cemitério, mas tirando isso, nada de especial. eu não fui porque tenho estado doente. jantámos por cá. e pronto. foi mais ou menos um dia como todos os outros.

a tua campa vai ser simples. não básica, mas não demasiado ornamentada. vamos pedir um pergaminho, se o senhor fizer, porque é mais giro. esperemos que aquilo que queremos não fique mesmo demasiado caro. lembrei-me que talvez pudéssemos pôr alguma quadra de um poeta que gostasses. a mana lembrou-se uma coisa que tu dizias do bocage - meia palavra dita e eu, como boa entendedora, reconheci logo o que era.  há tantos anos que não a dizias. depois fui ver e não era bocage, mas antónio aleixo. e o que a quadra que tu nos dizias do antónio aleixo era esta:

sei que pareço um ladrão,
mas há muitos que eu conheço,
que não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.

é a tua cara chapada e, se calhar, se não fosse pela palavra ladrão até insistia para pormos isso algures na tua campa. depois, tive a ler um bocadinho sobre o aleixo e percebi por que motivo gostavas das coisas dele. são breves, directas, por vezes, cínicas e irónicas, e combinam bem contigo. (sim, hei-de comprar um livro dele) é só que a lenga-lenga das saudades e das filhas, esposa e netos e a família toda é.... nhecs. queria lá pôr algo mais teu. algo que tu dissesses (um dia fui a belas, e em belas belas vi, mas a bela que  eu lá vi, eras ti - sim, também sei que não é da tua autoria), algo que nos fizesses reconhecer-te (não digas mal do velhinho, que tu vais pelo mesmo caminho - tua autoria?).
é possível que sim. esta semana, a mãe vai combinar com o senhor para lhe mostrar o que queremos e acertar esses pormenores.

e agora o rex. tenho o coração pesado de culpa que tu nem sabes. quase tão pesado como quando ficaste com a pancreatite e eu e a mana quase que batemos com as cabeças nas paredes de tanta dúvida, se teria sido por nossa causa que tinhas ficado assim.
bem, já sabias que ele estava doente, eu já te tinha contado. mas hoje foi demais, começou com mais ataques e mais fortes e custava-se muito a mexer e a mãe, já sabes, rainha da inacção, ai que o cão morre. mas eu pensei, o caraças! o caraças se eu deixo o cão do meu pai morrer assim. na verdade, pensei em inglês, mas não vale a pena falar contigo em inglês. e desatei a ligar para tudo o que era sítio (o facto de ser feriado não ajudou em nada) e a mãe sempre a dizer que não queria tratamentos e para eu ver se era muito caro, que o rex não era uma pessoa.
sim, ok, não é uma pessoa, mas é para deixá-lo morrer assim?
liguei, liguei. já com lágrimas derramadas e o caraças se eu o deixo morrer assim.
e lá consegui um hospital veterinário, no barreiro, que não faziam domicílios hoje, mas expliquei a situação e lá vieram. isto foi antes de almoço. só podiam vir às 15h30. que espera insuportável e eu sempre a espreitar o cão, que ora tinha outro ataque e ficava ali deitado no chão, ora andava à deriva pelo quintal, a ir contra as coisas, já todo sujo, de tanto se roçar no chão. e quando chegaram, fui lá sozinha recebê-las e comecei logo a chorar (a surpresa!) e ainda o examinaram e viram as análises que ele fez e a medicação que estava a fazer e ainda tive um bocadinho com ele e depois, pronto, terminaram-no. eu autorizei que o matassem.
a veterinária olhou para mim, qual senhor da agência funerária no dia do teu funeral, e eu, novamente, acenei com a cabeça.

sim, matem o meu cão.
sim, enterrem o meu pai.

ainda me perguntou se queria ficar ali a assistir e eu pensei, fiquei até ao fim de um, fico até ao fim do outro. e fiquei. e ele morreu dentro de muito pouco tempo e já não ia sofrer nunca mais. e eu devia estar aliviada, não é? consegui tomar a difícil decisão de lhe aliviar todo o sofrimento, mas só senti culpa. achas que ele me perdoa o que fiz? ele estava morto e era por minha causa.

(tu tiveste a pancreatite e seria por nossa causa?)

e não há mais rex. os homens estão a deixar esta casa.

mas antes de ele morrer, quando estive com ele, disse-lhe mentalmente para te encontrar a ti. espero bem que o tenha feito.

# 96


1999 - 2011

the waiting drove me mad

novamente, decisões de vida e morte.
é como se eu assinasse sentenças, agora.
e decido onde fica o corpo.