a certa altura, as questões modificam-se: que má notícia é preferível receber?
aos 23 anos de idade, sinto-me carregada. se caminhasse na areia, certamente as minhas pegadas seriam mais fundas do que aquilo que o meu peso justifica.
já são tantos anos de tanta coisa. aos 23 anos, é idade de ter a vida pela frente e eu sinto que preciso de uma valente pausa. chega de tantas emoções.
um bocadinho de calma, se faz favor, que isto qualquer dia descontrola a sério e, como eu costumo dizer, não é fácil ser a marina.
não é fácil ver a mãe a entrar no quarto lavada em lágrimas só porque sim. porque é a vida que levamos.
não é fácil ver o pai no sofá com as mãos na cabeça de tantas dores que tem. não é fácil e, no entanto, é a vida que temos.
não é fácil pegar ao colo a sobrinha de quase 2 anos e que parece um bebé de 9 ou 10 meses. e, no entanto, seguramo-la nos braços com todo o amor do mundo.
não é fácil ver a pessoa com quem queremos partilhar a nossa vida com tantas dúvidas. e, no entanto, é o que nos cabe na palma da mão.
não é fácil, com tudo isso, sair da cama todas as manhãs, porque há traduções a enviar e outras a receber e ainda trabalhar arduamente para uma vida melhor.
não é fácil trabalhar para uma vida melhor, quando temos noção de que aquilo que temos ainda vai piorar.
não é fácil carregar estes 23 anos em cima. estes quase 24 anos de tanto.