o meu pai morreu à minha frente, enquanto eu segurava a mão dele. há mais de uma semana. enterrei o meu pai. eu sei isso. não quero ser mal interpretada. eu sei que o meu pai morreu. apenas não acredito nisso. ainda fico à espera de ouvir a chave rodar na porta, ou que ele me chame para dizer alguma coisa engraçada que ele se lembrou. e temos ainda de combinar como vamos fazer a salamandra na sala, ainda este ano. e falar de como a bárbara é toda desengonçada a andar. e no dia 13 de dezembro, vamos à consulta, falar com o doutor miguel e ele, certamente, vai-nos falar da infecção respiratória grave que o meu pai teve no fim-de-semana passada. e vamos, seguramente, discutir as opções de tratamento seguintes, porque ainda temos tanto pela frente. eu sei que o meu pai morreu. só não sei como viver com tanta vida dele pendente e entrelaçada na minha.