Saturday, June 17, 2006

3

criei o pecado e a lógica. desenhei o conto e
aniquilei todas as personagens. substituí a vida
pela morte. parti o espelho.

dormitei no lago. boiavam pedaços de espelhos
partidos. não fui só eu quem os partiu. senti que
existiam mais espelhos e estreitos de escuridão.

cheirei as cinzas. ardia alguém entre as folhagens.
ardia com espelhos. era só mais uma personagem,
um fantoche.

retirei os cenários idílicos e os sons. prefiro fantoches
em silêncio. talhei-lhe os dedos das mãos e dos pés.
despi-os de sentimentos e expressões. remexi ligeiramente
o cérebro. fiz soar um tambor como nos enterros.

cortei-lhe as veias. injectei princípios de vazio. omiti a melancolia
mas mantiva as artérias intactas. parei as horas e os moribundos.
pintei-me. esculpi-me. nem tive tempo de amar...


Ana Filipa [Anokas]

what we are is what we make of ourselves...



2 comments:

joana said...

sem reacção... bom... muito bom...

Anonymous said...

Marina, quem é a Joana?