Sunday, January 30, 2011

carta ao pai #4

pai,

há umas semanas, comprei um livro sobre mulheres que perdem os pais - típico meu. e a autora tinha uma cassete com a voz do pai. e eu pensei que não tinha nada teu desse género.

mas, nem sabes! lembras-te quando em 2007 fomos alentejo, com a mana?
hoje, estava à procura de uma fotografia que o guilherme me tirou em tempos e descobri a pasta desse passeio. com vídeos...
e sim, tu apareces nos vídeos e sim, ouve-se coisas ditas por ti.
e a primeira coisa que pensei quando me apercebi disso foi "merda". estava eu realmente pronta para te ver e ouvir?
o melhor vídeo é aquele em que me esqueci do telemóvel ligado, a filmar, dentro da mala e se houve a nossa conversa (incrível como o melhor vídeo tem como origem a minha distracção). eu, com o mapa, a ver para onde vamos - íamos para a barragem do alqueva -, tu a comentar e a mãe a tentar perceber o que dizemos, enquanto gozamos os dois com ela.
a certa altura, tu até a chegar a mandá-la embora para o carro da mana.
o que eu ri quando disseste isso.

chorei um bocadinho quando te vi e ouvi, mas acima de tudo, ri bastante com as coisas que dizias. com o teu tom de voz. o teu. não que tinhas nos últimos meses, depois da corda vocal parada. mas o teu.

tu a dizeres coisas sobre as árvores, as pontes, os rios, "o alentejo profundo".

e estou um bocadinho feliz por saber que sempre que quiser, posso-te ver a andar, a sorrir, ouvir-te a falar e a rir. e acima de tudo, saber que nessa viagem, eu estava sempre contigo, porque fazíamos uma boa dupla em viagens destas.

e fizemos sempre uma boa dupla, até ao teu fim.


obrigada por todas as boas recordações.
mais beijinhos cheios de saudades.

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