Sunday, March 12, 2006

Cantinho com pensamentos soltos

Com música, daquele tipo que soa a calma mas com sentidos. Pijama. Quentinha. Caminha. Aninhada nos lencóis. Segura. Onde nada me pode fazer mal. Onde nada de mau se pode aproximar. E começou mesmo bem. Mas mesmo, mesmo bem. E depois, de repente e praticamente ao mesmo tempo, foi-se desmoronando. Uma coisa de cada vez como para me mostrar que pode sempre acontecer (mais) uma coisa.

[i remember l.a.]

E começou tão bem. Tão "sorrisos parvos". Sorrisos esses que agora só consigo quando penso no bem que começou ou quando as coisas correm bem daquela maneira. Especial. Era assim que era. É assim que ainda é. Aqui, no meu cantinho, com pelo menos quatro memórias (mais uma vez...). Aqui, ainda sou livre de voltar atrás e quando as coisas não estão bem, deixo-me lá ficar. Quando tudo corria tão bem.

Porque foi assim que começou. Começou mesmo bem. Agora não. Tem dias (expressão horrível, mas é a que melhor define este novo agora). Às vezes ainda sorrio daquela maneira. Pelas mesmas coisas. Aquelas que me matam. Outras é só revolta. É essa a palavra. R-E-V-O-L-T-A. Letra por letra. Raiva e ódio também. Mas revolta, principalmente.

[falling into you]

Aqui, ainda me deixam (os deuses do tempo, aqueles que fazem tudo andar para a frente) ficar lá atrás. Para a frente é que é o caminho. Disseste tu uma vez. Porra, às vezes tenho mesmo saudades tuas. Mas mesmo muitas. Vi-te na semana passada. Moras a menos de dois minutos de mim. Todos os dias vejo a tua casa. E vi-te na semana passada. De longe. Acenámos e sorrimos. Confidências de tantos anos. E não sabes de nada. Perdeste dos meses mais importantes para mim, e eu perdi tantos meses teus. Confidências. Uma história de tantos anos. Às vezes tenho saudades tuas.

[if walls could talk]

Agora tenho saudades tuas. É noite e costumávamos ver as estrelas à noite, deitados no chão do meu quintal. E éramos, literalmente, inseparáveis. Passavas pela minha casa de manhã para irmos pa escola. No autocarro íamos sentados ao lado um do outro. Aulas juntos, sentados na mesma mesa, sempre. Comíamos à mesma hora. Ida para casa juntos. Depois de jantar ou ia eu para tua casa ou tu para a minha.

[i know what love is]

Tenho saudades tuas. A última vez que falei contigo foi dia 13 de Novembro (o teu dia de anos). Oh, bolas...falámos como se tivéssemos estado juntos todos os dias. Falei-te dele e tu falaste delas (não tens remédio!!!!). E dos nossos sobrinhos. A tua estava lá. Está enorme. E foi lindo ver o teu amor por ela. Falámos da escola, do trabalho. Da vida. Como se tivéssemos estado juntos todos os dias. E eu estava na tua casa, como se estivesse na minha. À vontade. Como sempre. Tantas horas na tua sala, na tua cozinha (onde estudávamos às vezes), no teu quarto. No teu quartoo, onde tu jogavas Championship Manager e eu contava-te as minhas coisas e tu dizias sempre "sabes que eu para te aconselhar..." E eu sorria (e estranho, agora deu-me vontade de chorar), e pensava que só o facto de me ouvires...Mas aconselhavas às vezes e acho que eras a única pessoa que sempre ouvia, justamente porque raramente aconselhavas.

Uma vez fui a tua casa de manhã (sempres foste mais madrugador que eu) e estavas a ler uma banda-desenhada do Astérix! Eu constumava obrigar-te a ler, mas tu nunca gostaste muito de livros!

E apesar da história, sempre avançámos, e sempre ouvimos sobre outros. E éramos sinceros nos desejos de felicidade um para o outro. Ainda hoje é assim. Como se nos vissemos todos os dias. E nem sei porque raio estou a escrever este texto enorme sobre ti, mas acho que tenho saudades tuas. Sim, tenho. Dos teus vícios e hábitos. Se fechar os olhos ainda me lembro da forma das tuas mãos.

[i remember l.a.]

A tua letra. Eu era a única que a consegui decifrar. Tanta vez eu a li. Afinal eu estava contigo quando aprendemos a escrever. E a ler. E a tanta coisa. Aprendemos tanta coisa juntos. Mas tu descarrilaste, como diria a tua avó. No outro dia ela disse à minha mãe que desde que deixaste de andar comigo perdeste o tino. Achei graça, porque nós juntos nunca fomos muito atinados. Mas nunca fizémos o que começaste a fazer. E tu sabes que eu nunca te deixaria fazer isso. Não à minha frente.

Um dia decido-me e vou ter contigo. E falo-te dele. E conto-te tudo. Tudo aquilo que sempre prometemos contar, mas que perdemos oportunidade para tal. Um dia vou ter contigo e vai ser como se tivéssemos juntos todos os dias.

[falling into you]

Até lá, fico no meu cantinho. E escrevo. E, agora (coisa mais estranha), penso em ti. Sei que estás bem, mas queria voltar a fazer parte de ti, e queria que voltasses a fazer parte de mim. Sabes que não te adoro. Amo-te. Sempre te amei. Mas não é aquele amor dos namorados e dos apaixonados. É outro. Amo-te como amigo. Sempre te amei, e agora que passou tanto tempo se te ver e sem estar contigo, acho que vou amar-te sempre. Porque são tantos tipos de amor que sinto por ti que algum há-de sobreviver!! Se não, serás sempre tu. Não fazes parte de nenhum grupo. És especial demais para isso. Eu costumo dizer que tu és tu.

Um dia vou lá, e vai ser assim. Mas agora, fico-me por aqui.


5 comments:

sahara said...

sabes, marina, cheguei agora a casa com um aperto enorme (não sei exactamente onde mas ele cá está, todo enrolado em mim) e decidi ver se tinhas escrito algo. não sei mas algo disse-me para vir ao teu blog. vim e embora a história seja tua e em nada se compare ao aperto que tenho cá dentro, o nó ficou mais preso. e vou ler outra vez este enorme texto porque está lindo, nostálgico, agri-doce. gostei imenso. mas gostava também que este aperto me passasse.

adoro a maneira como transportas sentimentos-memórias para o "papel".

beijo grande*

marina said...

xary, eu dp falo ctg :) * *

joana said...

bem... k post de meter inveja ;P

sim, é bom ter amigos assim, aqueles que remontam tão longe no nosso passado que não nos lembramos bem de como era antes de os conhecermos...

esse tipo de gente (e digo gente para me conter de entrar já na lamechice!) com quem não temos cerimónia ou compostura porque a presença deles é algo de natural, it just feels right...

sabe bem lembrarmos-nos dessa "gente" assim do nada, simplesmente porque acontece. e depois ficamos a pensar (se calhar sou só eu) como será que aguentamos tanto tempo longe, se o sentimento está tão vivo? porque será que não dói...

Pergunta estúpida! Já há coisas suficientes a doer... que as amizades se mantenham sempre assim

(este comment ficou parvo!, mas axo k percebeste a ideia)

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sancie said...

"memories going round, round, round... round"

old friends, ever friends, friends who made us who we are, who left a mark, a little something.

just like xay put it: bitter-sweet

What's gone and what's left and the memories of both...

a kiss and a hug :) *******

eli said...

muito bonito. tomara muita gente ter amigos desses.
bjinhos