Friday, February 10, 2006

And so it was

Primeiro. Au, auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Dói demasiado. Choca demasiado. Pai. Pai. Estás assim. Pai. Mana. Que coisa. Que sufoco e tu não chegavas e fazias-me tanta falta. E o pai. Ai mana, o pai. E o tio...O avô...Tudo. O que a Andreia vai fazer? A vida continua, disse-lhe o avô. Ela disse-me hoje de manhã. O avô disse-lhe assim (gravei as palavras exactas, tal como ela me disse) "Já não vais ter um casamento como gostávamos", "Nem sei se vou", disse ela, e o avô respondeu "Não, não, Andreia, a vida continua." E sabemos bem que o Tio iria querer que assim fosse. Ai, Tio... (lembranças das palhaçadas dele com o meu pai, lágrimas internas, silenciosas). Marisa, Marisa, Jorge. "O avô é mais forte que nós todos juntos", disse-me a Andreia hoje quando o fomos buscar.

Pai, pai. Padrinho. Todos. E a foto. Desde terça que a foto não sai da minha mesinha de cabeceira, e ontem quando vinha para casa, o Eddie disse "the picture kept will remind me".

Pai, pai.

E vocês. Bolas, que nem mil obrigados são metade daquilo que vos tenho para agradecer. Tati, Manata, Inês, Xary, Miguel, e tu...tu foste, sei lá! tiveste lá, a apanhar comigo, a apanhar comigo e a apanhar comigo. Brigada a vocês!! Pela preocupação, pelo apoio, por tudo!

Pai, pai. E Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. Tio. A tua casa vazia, sem as tuas piadas (iguais às do meu pai). Marisa, tanta vez que falámos mal deles por eles serem tão iguais, não foi? "E agora quem é que vai fazer as macacadas contigo?", disse a Isabel ao meu pai, e ele encolheu os ombros e foi-se embora (chorar) e eu fiquei de coração partido por vê-lo assim.

"Já viste o Tio?", disse o meu padrinho. "Já", disse eu. "E consegues?", disse ele. Abanei a cabeça. "Eu não consigo", disse ele, "Ele tá muito mal?". "Não. Parece que tá a dormir.", disse eu. "Mas ele não vai falar comigo...Ele dizia sempre, Então tio Fernando, como é que isso vai?", disse ele. E foi-se embora. Quinze minutos depois, fez-me a mesma pergunta, como se me tivesse a ver pela primeira vez.

E o carro. O lugar, o volante. Direitinhos. Nem uma única mancha de sangue. "Ele fez tudo bem, os piscas, não vinha em excesso de velocidade", disse o camionista. E depois...

Lá estava a terra, em cima daquela caixa de madeira, e olhei para o lado direito. Mana. Para o lado esquerdo. Pai, mão, Zézinha. Pai a chorar. Em 19 anos. Pai a chorar. Fui lá. Quatro passos, cinco? Eu estava perto. abracei-o e chorei com ele. Ainda não tinha chorado desde que tinha entrado por aquele portão. Tinha beijado o meu Tio. Frio, tão frio. De mãos dadas com a Marisa. Mas nada de lágrimas. As pessoas olhavam para mim. Tristeza marcada. E eu olhava para aquele buraco. E nada de lágrimas. O meu pai. Agarrei-me a ele. Ele de mãos dadas com a minha mãe, filha agarrada a ele, outra filha mesmo em frente. Irmão ali. E as lágrimas corriam, e eu tive medo, medo de não ser forte o suficiente para ele. E chorei també? "Quem é que vai fazer as macacadas contigo?"

Padrinho. Que medo. E a frase que mais ouvi foi "Ai, Marina, o Tio. O nosso Tio". Mana. Eu sou a neta / sobrinha mais nova. Sou aquela que menos recordações tem. Mas tenho-as. A voz dele. Ainda a ouço. A minha maio lembrança é das muitas festas na casa dele. Na parte de trás do quintal, onde falei pela primeira vez com a minha mana e com a Inês, ao pé do churrasco. Ele a comer e a beber com o meu pai. E estão lá todos. Como ele queria. Tio, Tio.

Estás com a avó. 9 anos dia 7 de Abril. E acalma. Mas nada vai ser o mesmo. Ti Fatinha, Ti Ana, Tio António, Avô, Tio Fernando, Pai. Isabel, Mana, Bruno, Tiago, Jorge, Andreia, Cristina, Marisa, Eu, Sara. Guilherme (o Tio gordinho, como ele te chamava), Joana, Tomás.

Jacinto Calado. Benfiquista, como todos os Calados, bem - dispoto, como todos os Calados, amigo, como todos os Calados. Meu Tio. Jacinto Calado.


[mais uma vez, brigada, a ti, em muito especial...]

E eu sempre pensei que fosses tu a fazer a minha casa.


7 comments:

joana said...

n sei k te diga... este post já esperava que viesse a existir, e fico "contente" por assim ser... é bom deitar as coisas para fora, partilhar com as pessoas os teus fardos...

deixas transparecer muito bem os teus sentimentos destes últimos dias, descreves um quadro muito vivo e preciso, embora claro, não faça ideia de quem são as pernonagens, para mim são apenas nomes... tu tratas tudo no teu jeitinho de sempre, e para quem te conhece é dificil reapercebermo-nos ainda mais da blur k tem sido, as lagrimas e tudo mais....

n kero cavar ainda mais a fossa... sabes que estaremos contigo all along the way, smp smp smp...

bjokas mt mt mt grandes e apertadas ;P

joana said...

So, no one told you life was gonna be this way. (clap, clap, clap, clap, clap.)
Your Job's a joke, you're broke, your love life's D.O.A.
It's like you're always stuck in second gear.
And it hasn't been your day, your week, your month, or even your year.
But -

I'll be there for you ... when the rain starts to fall.
I'll be there for you ... like I've been there before.
I'll be there for you ... cause you're there for me, too.

;)*************************

sancie said...

Hey bee

At times like this, the ones standing out here only wish we could make it right, or at least make it better better. We seldom can. Time will, though, hopefully, which just sounds like a major cliche but I suppose it must be true.

Meanwhile we'll be here for you, like Manata and Miguel said. You couldn't get rid of us even if you tried :).

Love you to pieces********


"And the wind keeps rollin'
And the sky keeps turning grey
And the sun is set
The sun will rise another day"

sahara said...

não fosse a experiência dolorosamente pessoal sobre a qual escreveste e dava-te os parabéns pela maneira como está escrito. pondo escrituras elogiosas de lado e inevitavelmente tendo que repetir o que já foi dito, a vida continua sim. parece que pára por uns momentos, para nos deixar recompôr ou pelo menos fingirmos que assim é mas depois avança de novo. e nós avançamos com ela. coração um bocado mais pesado e dificil de arrastar mas avançamos. time softens the rough edges. e sempre que precisares de deitar cá para fora como fizeste neste post (e não necessariamente por posts), o pessoal está aqui.
sabes que as palavras se sufocam a si mesmas nestas alturas. e sabes que o silêncio não é vazio. muito pelo contrário.

much love, care and support for u

beijo grande * :) [and a bigger hug]

Martinha said...

ja não vinha ao blog há uns dias e fui apanhada de surpresa. tenho ido a net aos saltinhos e não tenho sossegado muito. e lamento n ter sossegado um pouco para perceber o que se passava... tenho séria dificuldade em dizer o que quer que seja nestas alturas. Acho que a dor que vejo espelhada me corta a respiração e o sitio por onde saem as palavras...

Quero dar-te um abraço muito grande e muito silencioso. Só um abraço assim. Muitos beijinhos e muita força. é preciso coragem para escrever assim e para conseguir mostrar o que te vem de dentro. acredito na tua coragem e na forma sábia como sei que irás ultrapassar tudo isto...

estou aqui tambem para o que for preciso.

um beijinho passion

Tati said...

I guess I've already told you everything...

and so did they(joana,xary,sancie,miguel,marta...)

desde que esse olho volte a brilhar...

(também ja previa o post sobre isto...)

words can not express how friendship is worthy

we love you!we will be always there for you!

you're stronger than you think.
...
...
...
...
...
(tenh d dizer ist...)


GO SIS!

oAstronauta said...

Comentário muito atrasado, mas encontrei o teu blog através do forum
"escreva", e na 1º página falavas de um 3º aniversário que não se comemorava. Vim atrás 3 anos para ver quem teria morrido.

Encontrei algo escrito e sentido com muita atenção ao momento vivido e beleza literária. Parabéns. tenho uma lágrima no canto de cada olho e não é fácil eu formá-las. Muito menos por lêr algo.